por Narcisa Amália*
a Ezequiel Freire
Dirás que é falso. Não. É certo. Desço
Ao fundo d’alma toda vez que hesito…
Cada vez que uma lágrima ou que um grito
Trai-me a angústia – ao sentir que desfaleço…
E toda assombro, toda amor, confesso,
O limiar desse país bendito
Cruzo: – aguardam-me as festas do infinito!
O horror da vida, deslumbrada, esqueço!
É que há dentro vales, céus, alturas,
Que o olhar do mundo não macula, a terna
Lua, flores, queridas criaturas,
E soa em cada moita, em cada gruta,
A sinfonia da paixão eterna!…
– E eis-me de novo forte para a luta.
Resende, 7.9.1886.
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*Narcisa Amália ( 1856 — 1924) foi uma poetisa brasileira. Foi a primeira jornalista profissional do Brasil. Movida por forte sensibilidade social, combateu a opressão da mulher, o regime escravista, segundo Sílvia Paixão, “um dos raros nomes femininos que falam de identidade nacional” e busca sua própria identidade “numa poética uterina que imprime o retorno ao lugar de origem”. Colaborou na revista A leitura (1894-1896)