por Gabriela Frederica de Andrada Dias Mesquita*
Da vida na manhã tudo é bonança,
Tudo é luz, tudo flor, tudo harmonia:
São cantos de suavíssima poesia,
Que nos embala em sonhos de esperança.
Ri a ventura ao lábio da criança;
Da mocidade a alegre fantasia,
Escrava da ilusão que a inebria,
Em vão busca o prazer, em vão se cansa.
Passam os anos, e com eles passam,
Uma por uma, todas as quimeras,
Chegam invernos, fogem primaveras…
Além no azul do céu, onde esvoaçam,
Tristes saudades das passadas eras,
São os sonhos da vida que perpassam…
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*Gabriela Frederica de Andrada Dias Mesquita (1852 – 1922). O grande tema da poetisa Gabriela, muito comum ao Barroco e ao Romantismo, é a fugacidade da vida e, em consequência, a crítica à ausência do desejo na velhice e a interrogação acerca da morte, para ela um tenebroso e tormentoso mistério. O topos do ubi sunt, entrelaçado ao passado erotismo e ao desejo da morte frequenta praticamente todos os poemas. Os temas da saudade e da solidão são também bastante frequentes.