Machado na tela grande

por Roberta AR

Fundador da Academia Brasileira de Letras tem sido grande fonte de inspiração para o cinema brasileiro

Esse ano é o centenário da morte de Machado de Assis. Reconhecido como o mais importante expoente do realismo brasileiro, talvez de toda a literatura brasileira, que tem no seu legado a fundação da Academia Brasileira de Letras, não é inspiração apenas para ensaios literários em revistas especializadas ou em livros didáticos brasileiros. Sua obra tem sido grande influência no cinema brasileiro. São muitos os filmes em curta e longa metragem que são adaptações de seus trabalhos.

Seus primeiros livros foram fortemente influenciados pelo romantismo, que teve um grande número de representantes no Brasil. Deste período são Iaiá Garcia e Helena, para citar os mais conhecidos. Mas apenas quando se rendeu ao realismo é que sua obra se tornou revolucionária.

Os romances Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro são os mais conhecidos e admirados. Não é por acaso, portanto, que ganharam versões no cinema. Quincas Borba, de Roberto Santos, cineasta representante do cinema novo brasileiro, foi produzido em 1987 e traz o ator Paulo Vilaça, de Bandido da Luz Vermelha, no papel título do filme. Uma adaptação de qualidade, que buscou manter a ambientação original do livro.

Com duas adaptações para o cinema, Dom Casmurro traz versões bem diferentes do romance entre Bentinho e Capitu. A mais recente delas é Dom, de Moacyr Góes, realizada em 2003, com um olhar contemporâneo sobre relacionamentos e ciúme. Marcos Palmeira é Bento, nome que recebeu dos pais em homenagem ao livro de Machado, que se casa com sua amiga de infância Ana, personagem de Maria Fernanda Cândido, que recebeu do amigo o apelido carinhoso de Capitu. Mais fiel ao livro é o filme Capitu, de 1968, dirigido por Paulo Cesar Saraceni e que traz Othon Bastos no papel de Bento.

Memórias Póstumas de Brás Cubas tem também dois registros em película. O primeiro deles foi realizado por Julio Bressane, com Luis Fernando Guimarães no papel título do filme. Brás Cubas foi realizado em 1985 e é uma das melhores adaptações do escritor para o cinema. Este filme faz uso de uma das maiores inovações promovidas por Machado neste romance, a metalinguagem, mostrando os bastidores da filmagem com total naturalidade. Já Memórias Póstumas, de André Klotzel, é uma adaptação comercial, com um Brás Cubas quase desprovido da a malícia característica do personagem.

Contos
Os contos de Machado de Assis são quase tão importantes em sua obra quanto seus romances. Todo mundo que cursou o ensino médio no Brasil já deve ter lido ao menos um. Muitos deles também chegaram ao cinema.

Sergio Bianchi, conhecido pelo seu filme Cronicamente Inviável, pegou emprestado o nome do único conto naturalista de Machado, A Causa Secreta, para fazer um de seus filmes mais contudentes. O filme capta toda a sensação de desprezo pela vida exposta no conto e reproduz sua cena mais incômoda, a de um rato sendo torturado num fogareiro.

A divertida novela O Alienista , também ganhou uma versão no alegórico filme Azylo Muito Louco, de Nelson Pereira dos Santos, com uma interpretação quase circense da história.

A lista de filmes é enorme, muitos deles muito bons, outros nem tanto, mas definitivamente nada se compara a ler as obras deste escritor genial. Adptar é pegar emprestado para realizar uma obra totalmente nova, que pode se aproximar ou se afastar da original. Experimentar as várias possibilidades pode ser bastante divertido.

Confira:

Capitu (1968), direção de Paulo Cesar Saraceni, adaptação de Dom Casmurro

Azyllo Muito Louco (1970), direção de Nelson Pereira dos Santos, adaptação de O Alienista

Um Homem Célebre (1974), direção de Miguel Faria Jr., adaptação de conto com mesmo nome

Confissões de Uma Viúva Moça (1976), direção de Adnor Pitanga, adaptação do romance com mesmo nome

Que Estranha Forma de Amar (1977), direção de Geraldo Vietri, adaptação do romande Iaiá Garcia

A Missa do Galo (1982), direção de Nelson Pereira dos Santos, adaptação de conto com mesmo nome

Brás Cubas (1985), direção de Júlio Bressane, adaptação de Memórias Póstumas de Brás Cubas

Quincas Borba (1987), direção de Roberto Santos, adaptação de romance com mesmo nome

A Causa Secreta (1994), direção de Sérgio Bianchi, inpirado no conto de mesmo nome

Um Homem Sério (1996), direção de Dainara Toffoli e Diego de Godoy, livre adaptação do conto Um Homem Célebre

Memorias póstumas (2001), direção de André Klotzel, adaptação de Memórias Póstumas de Brás Cubas

Dom (2003), direção de Moacyr Góes, inspirado no romance Dom Casmurro

A Cartomante (2004), direção de Pablo Uranga e Wagner de Assis, baseado em conto de mesmo nome

Quanto Vale Ou É Por Quilo? (2005), direção de Sergio Bianchi, livre adaptação do conto Pai Contra Mãe