Humor científico

por André Rafaini Lopes

Castelo Branco. Rodovia de alta velocidade. 100 km/h… 120 km/h… Ele pára no acostamento. Talvez tocasse algo no rádio. Talvez um programa jornalístico, contando como o trânsito fluía bem naquela manhã de domingo. Tinha algo a provar. Olhar perdido. Pela janela aberta sentia o vento dos carros que passavam ao seu lado. Se fumasse, aquele seria o momento ideal para acender um. Só mesmo depois de jogar a bituca na estrada, a mente teria a frieza científica para provar a graça da piada. Estava calmo, mesmo assim. Olhou no retrovisor e esperou um intervalo para voltar à pista. Entrou e pegou a contramão. Não atravessou o canteiro. Foi pela que veio. O rádio ainda ligado daria uma nota sobre um escândalo de Brasília. Sobre ele, nada. Um carro assovia na faixa ao lado. A sensação de velocidade é maior quando se segue em sentido contrário. Deve ter se lembrado das aulas de física: as forças assim se somam. Um quilômetro e, no rádio, nada dele. Outro passa. A buzina de alerta segue num crescendo, fortíssimo e diminuendo. Palavrão. E ele lá e uma propaganda. Dois quilômetros. Os motoristas, ao vê-lo, freiam e jogam para o acostamento. Três quilômetros e começa a procurar onde pode estar seu erro e onde o português acertou. Um ônibus quase o acerta em cheio. Faltava o último fator da equação. Em condições normais de pressão e temperatura, deveria escutar, no jornal, o repórter aéreo avisar: “- Atenção motoristas que trafegam pela Castelo Branco. Tem um louco correndo na contramão”. Ceticamente retrucaria: “Um não, são dezenas”, registrando qualquer alteração do seu humor e  a eficácia de sua blague. Quatro quilômetros. Um caminhão que vinha a oitenta com barras de aço, não conseguiu sair. O comediante cientista morreu poeta atrapalhando o tráfego.