por Cicinho Filisteu*
Falar do Pacotão é contar a história de Brasília, a começar da década de 70. Pois bem, foi justamente por essa época que a cidade, mais propriamente os bares do Plano Piloto, à noite, recebiam um contingente de servidores públicos, professores da UnB, das escolas públicas e muitos estudantes. Claro que o assunto pertinente era a política.
Havia os que apoiavam o governo militar e, por outro lado, os antigovernistas, os arenistas (Arena), e os emedebistas (MDB). Foi nessa fase que os grandes jornais impressos do Rio de Janeiro, São Paulo, de Minas Gerais, e do Sul aqui estabeleceram suas redações e repórteres. Com o afastamento do presidente Costa e Silva, que sofreu uma trombose cerebral, o regime militar afastou o vice-presidente da República Pedro Aleixo, e a presidência dos ministros militares: Exército, Marinha e Aeronáutica. E, foi justamente, por essa época que a sociedade civil, os trabalhadores, os estudantes, a classe política começaram a se manifestar contra os ditadores militares, pregando assim a volta da democracia.
Com esse caldeirão ideológico em grande efervescência, foi em abril de 1977 que o caldo entornou quando o presidente Geisel fechou o Congresso Nacional, cassou vários deputados federais, e criou os senadores biônicos e os governadores indiretos.
Em 1978, exatamente, no carnaval sai às ruas, e pela contramão, o Pacotão, formado por um bloco de aproximadamente 200 pessoas, sendo jornalistas, servidores, professores, estudantes, rapazes moças e o povão. Mas, o que chama a atenção do público, é o nome clássico, erudito, sonoro e hierárquico de Sociedade Armorial Patafísica Rusticana, simplesmente, O Pacotão. A ideia dessa denominação partiu do coleguinha Carlos Augusto Gouveia, jornalista nascido em Niterói. E como a crítica política é a essência vital do Pacotão, no ano de 1989, o bloco veio à rua, entoando seu hino oficial, a marchinha Aiatolá, que é assim:
Aiatolá
Geisel você nos atolou,
O Figueiredo também
Vai atolar
Aí aitolá aitolá
Venha nos salvar
Esse governo
Já ficou gagá.
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* Cicinho Filisteu, ou Cícero Ferreira Lopes, é jornalista e sócio-fundador e compositor do Pacotão, bloco carnavalesco de Brasília.
Este jornalista citado, o Carlos Alberto Gouveia (Gouvea), trabalhou no jornal Folha de São Paulo e na revista Melodias na primeira metade da década de 70? Se for, como faço para contatá-lo? Obrigado!