por Auta de Souza*
A Rosa Monteiro
Quando me vires chorar,
Que sou infeliz não creias;
Eu choro porque no Mar
Nem sempre cantam sereias.
Choro porque, no Infinito,
As estrelas luminosas
Choram o orvalho bendito,
Que faz desabrochar as rosas.
Do lábio o consolo santo
É o riso que vem cantando…
O riso do olhar é o pranto:
Meus olhos riem chorando.
O seio branco da aurora
Derrama orvalhos a flux…
O círio que brilha chora:
A dor também fere a luz?
Teus olhos cheios de ardores
Aninham rosas nas faces…
Que seria dessas flores,
Responde, se não chorasses?
Sou moça e bem sabes que
A moça não tem martírios;
Se chora sempre, é porque
Pretende imitar os lírios.
Enquanto eu viver no mundo,
Meus olhos hão de chorar…
Ah! como é doce o profundo
Soluço eterno do Mar!
Do lábio o consolo santo
É o riso que vem cantando…
O riso do olhar é o pranto:
Meus olhos riem chorando.
Jardim – 8 – 1897
* Auta de Souza (1876 – 1901) foi uma poetisa brasileira da segunda geração romântica (ultrarromântica, byroniana ou Mal do Século), autora de Horto. Escrevia poemas românticos com alguma influência simbolista, e de alto valor estético. Segundo Luís da Câmara Cascudo, é “a maior poetisa mística do Brasil”.