Hoje, eu peguei todas as máscaras pff que eu deixei arejando para reusar e joguei no lixo. Já fazia alguns meses que elas não saíam de casa, trocadas pelas descartáveis, mais leves, mais práticas. Mas ficavam guardadas para caso…
Demorou uma semana, quase, para cair a ficha de que a pandemia oficialmente acabou. “OMS declara fim da emergência global”, eu li em algum lugar e nem consegui comemorar. Depois de dias, a ficha realmente caiu: sobrevivemos.
Essa tensão por anos e que parecia infinita, sempre esperando mais uma dose da vacina que nos manteria correndo menos risco. Semana passada mesmo, foi a vez da bivalente e da terceira dose da criança. Acabou, agora é mais uma doença para lidarmos, sob certo controle.
O medo de estar em aglomerações vem diminuindo gradualmente. Primeiro com máscaras potentes, depois com máscaras descartáveis e agora já andando por aí sem elas, menos em hospitais e afins, porque né. A criança começou a relaxar também, foram muitos meses de puro pânico ao pensar em sair de casa, medo de morrer.
Estar no mundo novamente trouxe outro estranhamento profundo em mim. Sinto como se estivesse dormido por dez anos e acordado de repente. Roupas, músicas, comidas da moda, rostos, tudo novo, diferente para mim. Daí vou percebendo, e isso é um pouco difícil de lidar, que não me recupero apenas de uma pandemia.
Foi a depressão pós parto que virou ansiedade e que eu achei que estava superando, sozinha, com filho pequeno e ninguém olhando para mim, quando a pandemia chegou. E foi um pânico de novo e dor da vida que perdi de viver e que ainda ia demorar a ser vivida por sei lá quanto tempo. E lidar com violências antigas em novos formatos.
Mas se há uma coisa que essa proximidade com a morte me ensinou é que estar só também adoece, debilita, enfraquece e deixa vulnerável. Aprendi a pedir ajuda. Não ajuda a amigos, isso tenho aprendido com o tempo. Mas para instituições. Escola, médico da família, polícia. Eu sempre tive medo das instituições todas, por muitos motivos que não vou enumerar aqui, agora aprendi que, se você quer mesmo sobreviver em algumas situações, é para elas que você precisa pedir ajuda.
Aprendi também que existem pessoas que realmente não possuem limite em seu desespero de espalhar sua própria dor a qualquer um que chegue mais perto. É triste e lamentável. Brutal.
Eu sobrevivi. Só que não só sobrevivi, hoje sigo em direção à vida, aquela que eu achei que não ia acontecer mais pra mim. Vai sim. Nem sei como, mas já está acontecendo neste mundo de dez anos depois de ficar “dormindo”. E viver é bom, sim.
“Me cansei de lero-lero
Dá licença, mas eu vou sair do sério
Quero mais saúde
Me cansei de escutar opiniões
De como ter um mundo melhor”
Rita Lee, em Saúde