por Castro Alves*
“Ouve-me, pois!… Eu fui uma perdida;
Foi este o meu destino, a minha sorte…
Por esse crime é que hoje perco a vida,
Mas dele em breve há de salvar-me a morte!
“E minh’alma, bem vês, que não se irrita,
Antes bendiz estes mandões ferozes.
Eu seria talvez por ti maldita,
Filho! sem o batismo dos algozes!
“Porque eu pequei… e do pecado escuro
Tu foste o fruto cândido, inocente,
— Borboleta, que sai do — lodo impuro…
— Rosa, que sai de — pútrida semente!
“Filho! Bem vês… fiz o maior dos crimes
— Criei um ente para a dor e a fome!
Do teu berço escrevi nos brancos vimes
O nome de bastardo — impuro nome.
“Por isso agora tua mãe te implora
E a teus pés de joelhos se debruça.
Perdoa à triste — que de angústia chora,
Perdoa à mártir — que de dor soluça!
“Mas um gemido a meus ouvidos soa…
Que pranto é este que em meu seio rola?
Meu Deus, é o pranto seu que me perdoa…
Filho, obrigada pela tua esmola!
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* Antônio Frederico de Castro Alves (1847 – 1871) foi um poeta brasileiro.Nasceu na fazenda Cabaceiras, a sete léguas (42 km) da vila de Nossa Senhora da Conceição de “Curralinho”, hoje Castro Alves, no estado da Bahia. Suas poesias mais conhecidas são marcadas pelo combate à escravidão, motivo pelo qual é conhecido como “Poeta dos Escravos”. Foi o nosso mais inspirado poeta condoreiro.