Cuidado, frágil

por André Gonzales*

“Cuidado, Frágil” é uma instalação. A obra é um inflável feito de plástico-bolha que tem uma área maior que a área da Galeria de Bolso, assim o inflável acaba pressionado entre as paredes. Apesar de ocupar todo o espaço de circulação da galeria, a obra é penetrável, os visitantes podem entrar no inflável. Dentro dele, o plástico-bolha gruda no corpo do ocupante, pois o ar pressiona as paredes do inflável contra a pessoa. A locomoção torna-se um pouco difícil e os movimentos ficam limitados. Ao penetrar o inflável, o participante torna-se parte integrante da obra, ele modifica e é modificado pela obra. Enquanto a pessoa altera a forma, a cor e torna o inflável vivo, o plástico-bolha torna a imagem do participante indefinida, ela se transforma em retículas e doa sua identidade a obra.

A instalação tem a intenção de retomar alguns dos questionamentos sobre o espaço da galeria e o expectador. A obra confronta o espaço limitado da galeria, pressionando suas paredes. Ela questiona o vazio, pois o que realmente preenche o espaço é o ar, o mesmo ar que estamos constantemente imersos, e que, de certa forma, demonstra que o “vazio” ali nunca existiu. Esta sensação é intensificada quando há mais de uma pessoa dentro do inflável, quando a presença do outro pode ser percebida. A obra também não é imutável, ela se modifica com a entrada dos participantes, o movimento a torna impermanente.

Busca- se aqui uma percepção supra-sensorial do expectador-participante, retomando alguns conceitos propostos por Hélio Oiticica. Ela é uma obra palpável, dirigida “aos sentidos, para através deles, da ‘percepção total’, levar o indivíduo a uma ‘supra-sensação’, ao dilatamento de suas capacidades sensoriais habituais, para a descoberta da sua espontaneidade expressiva adormecida, condicionada ao cotidiano”.
Contrapondo estes conceitos, existe o limite de movimento dentro da obra e sua relação com o material. O inflável apesar de ser percebido e transformado pelo visitante, limita os movimentos dele e sua expressão está contida nas condições que lhe são dadas. Esta limitação se refere ao material e ao nome da obra: “Cuidado, frágil”. Ao mesmo tempo que o plástico-bolha te protege, ele te limita, ao mesmo tempo que se adapta a você, ele te desfoca. Uma referência as forças que atuam entre a o espaço, o expectador e a obra.


*André Gonzales está no nono semestre de Desenho Industrial, canta na banda Móveis Coloniais de Acaju, é sócio da empresa Feijão Bola Oito, especializada em design gráfico para vestuário, e ainda não sabe se é artista plástico.