É verdade, eu estava lá

por Roberta AR

Pela primeira vez, fui ao desfile de 7 de setembro em Brasília. E só fui porque me pagaram para isso. Foi dos eventos mais psicodélicos de que já fiz parte. Talvez pelo sono, talvez porque os militares sempre me assustaram, eu nasci no meio da ditadura militar.

Já no começo do desfile percebo como nossas referências nacionais são anacrônicas. A cidade futurista serve de pano de fundo para o presidente que chega num Rolls-Royce dos anos 50, escoltado pelos dragões da independência, em seu uniforme do tempo do império. Os cavalos tinham um selo dourado estampado em cada uma de suas nádegas.

O presidente entrou e foi aplaudido com entusiasmo pelos civis presentes. Em seguida um rapaz passou com uma bandeira da campanha Lula presidente e foi vaiado com o mesmo entusiasmo. Juro que não entendi.

Começa o desfile propriamente dito com o Colégio Militar. Fiquei hipnotizada com os braços se movendo igualzinhos, centenas deles, e cabeças e pernas, todos iguais, todos sem rosto, aquilo já estava me angustiando, quando uma garota sai correndo no meio daquele movimento retilíneo uniforme, porque perdeu o sapato, daí deixa o quepe cair e eu me sinto aliviada e volto a mim.

Bandas e bandas marciais depois começa o desfile das forças armadas. Um desfile por terra e outro no ar, nunca tinha visto tanto armamento junto.

Os aviões que o presidente comprou no fim do mês passado sobrevoaram minha cabeça num rasante. Um boeing aparece no horizonte abastecendo dois caças em pleno vôo. Soldados descem de rapel de um helicóptero que sobrevoa a esplanada dos ministérios. Um deles de ponta cabeça, ressalta o locutor. A incrível pirâmide humana da polícia do exército, um leque de pessoas em cima de uma moto, atravessa toda a multidão presente. E ainda tem, em seguida, a apresentação da esquadrilha da fumaça.

Somos uma nação poderosa, então. Quem chegar perto, tá fudido. Quando eu penso que acabou, chega o primeiro comando da guerra eletrônica. Eu nem sabia que a gente estava em guerra eletrônica.

E é essa a noção de povo brasileiro no dia da independência. E quantos anos são? Independência do quê? Devemos mesmo precisar de tanta pirotecnia.