Sushis Mortos

por Jamile Vasconcelos*

(relato de um sonho)

Andava juntamente com alguns amigos e familiares por uma longa e escura estrada. Com curvas suntuosas, cercado de matas por um lado e banhado pelo mar pelo outro, o caminho não nos levavam especificamente há algum lugar. Éramos conduzidos por um negrinho nu, todo sujo de barro, que nos arrastava através de uma corda. Preso pelo pescoço, às vezes amarrado pela testa, de forma que a tarefa não o trouxesse dor, apesar da aparente ferida causada pelo grosso entrelaçado de fios. Não era um escravo ou empregado que estivesse trabalhando de forma servil, porém, um elemento da terra que nos guiava e nos ajudava. Em um determinado ponto, avistamos uma bela e reluzente estrela que, subitamente, começa a mudar de forma e foco, se transformando inicialmente em uma grande luz, depois em uma bola com triângulos dentro e, por fim, em um grande disco luminoso. Tento receber a luz que ele emite mas não consigo. Sempre há um galho de árvore na minha frente, por mais que tente me desviar. Um amigo, por sua vez, consegue tudo perceber. Nesse momento, um garoto branco nu em miniatura, espécie de anjo-alienígena, desce voando (apesar de não ter asas) e despeja três gotas de esperma em sua boca. Uma benção e batizado pela jornada. Ao meu lado avisto apenas sushis gigantes, mortos e enfileirados na praia. Cani, salmão, camarão, polvo. A radiação havia sido forte demais para aqueles seres, que um dia certamente já haviam habitado a terra e o mar.

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* Jamile Vasconcelos é baiana, produtora cultural, fotografa e rabisca nas horas vagas. Simpatiza com andróides.