Subitamente perdi o medo da morte. Sentir o coração acelerado, fruto de alguma disfunção que carrego há algum tempo, já não me assusta mais. Às vezes parece que pulsa descompassado, mas sei que isso é apenas fruto da respiração difícil, conseqüência inevitável deste clima desértico a que me exponho por anos seguidos e que seguidas vezes já me levou ao PS.
Pontos distintos do corpo doem. Sei que é porque me encolho no esforço de que o ar entre no peito. Penso nos fumantes que chegam a um ponto da vida que seus pulmões decidem limitar a quantidade de ar que entra. “É como respirar por um canudinho de refrigerante, daqueles fininhos”, alguém me disse uma vez.
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Tive um pesadelo: “uma guerra, estou na trincheira. Minhas canelas estão geladas, pois meu pé está na lama fria, e me sinto febril. Uma bomba e a fumaça toma conta de tudo. Eu não consigo respirar”.
Acordo no meio da fumaça com a canela gelada. A janela ficou aberta tentando dissipar o ar venenoso. A colônia de bactérias no meu rosto parece estar em pleno carnaval, é o que a dor fina na base da nuca quer anunciar.
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“Frescura”, minha mãe disse na sala de espera do otorrinolaringologista, pouco antes do médico informar que eu teria que tomar antibióticos por três meses para combater a placa de bactérias nos “seios da face”, causa do meu sono constante e da labirintite.
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O que não é visível não incomoda o outro e falar é sempre dar-se importância demais. Que tal ficar assim, em silêncio. O ar entrando cada vez em menos quantidade até. Daí, fim.