Respirando em canudinhos

por Roberta AR

Subitamente perdi o medo da morte. Sentir o coração acelerado, fruto de alguma disfunção que carrego há algum tempo, já não me assusta mais. Às vezes parece que pulsa descompassado, mas sei que isso é apenas fruto da respiração difícil, conseqüência inevitável deste clima desértico a que me exponho por anos seguidos e que seguidas vezes já me levou ao PS.

Pontos distintos do corpo doem. Sei que é porque me encolho no esforço de que o ar entre no peito. Penso nos fumantes que chegam a um ponto da vida que seus pulmões decidem limitar a quantidade de ar que entra. “É como respirar por um canudinho de refrigerante, daqueles fininhos”, alguém me disse uma vez.

Tive um pesadelo: “uma guerra, estou na trincheira. Minhas canelas estão geladas, pois meu pé está na lama fria, e me sinto febril. Uma bomba e a fumaça toma conta de tudo. Eu não consigo respirar”.

Acordo no meio da fumaça com a canela gelada. A janela ficou aberta tentando dissipar o ar venenoso. A colônia de bactérias no meu rosto parece estar em pleno carnaval, é o que a dor fina na base da nuca quer anunciar.

“Frescura”, minha mãe disse na sala de espera do otorrinolaringologista, pouco antes do médico informar que eu teria que tomar antibióticos por três meses para combater a placa de bactérias nos “seios da face”, causa do meu sono constante e da labirintite.

O que não é visível não incomoda o outro e falar é sempre dar-se importância demais. Que tal ficar assim, em silêncio. O ar entrando cada vez em menos quantidade até. Daí, fim.