Eu sei

por Roberta AR

Moravam juntos havia alguns meses, depois de estar separados por alguns outros meses.

– Estou com febre – disse ele ao acordar de manhã.

– Gripe? – ela respondeu se arrumando para ir ao trabalho.

– Não sei.

– Beba bastante água, tome um analgésico e durma, se for gripe, vai melhorar – ela fez a recomendação já saindo do quarto, estava atrasada.

O dia se passou cinza e frio, como era característico da cidade. Ela o dia inteiro preocupada com a qualidade total do seu trabalho, necessário para sustentar a faculdade. Na hora do almoço deu uma volta pela rua, olhou para o céu e perguntou a si mesma quando tudo isso teria fim.

Quando chegou em casa, descobriu que ele não iria passar a noite com ela, precisava terminar um trabalho e passaria a noite por lá.

Na tarde do dia seguinte ela recebe uma ligação no trabalho:

– A febre voltou, não sei o que fazer. Estou me sentindo muito mal.

– Você já foi ao médico?

– Você sabe que eu não tenho plano de saúde, nem dinheiro. O que faço?

– Eu vou para casa e te levo no Hospital das Clínicas. Tiro a tarde pra isso. Fica calmo.

– Por favor, vem logo, eu não aguento mais…

Foram para o hospital. Na porta descobriram que somente o doente poderia entrar. Ela ficou do lado de fora, cuidando dele da maneira que podia. Olhava e desejava que tudo passasse logo.

Ele demorou muito a voltar. Ela saiu. Quando voltou, ela o encontrou na cama muito nervoso.

– Como foi lá?

– Estou com pneumonia. E muito forte.

– Já tomou remédio?

– Eles me medicaram e estou com os comprimidos para continuar o tratamento em casa.

– É muito grave, por que essa cara?

– Fiz um exame que preciso pegar ainda hoje. Quero que você vá lá comigo, estou com muito medo.

– Medo?

– Sim… eles disseram que essa pneumonia é muito comum em quem tem uma doença bem mais grave. Fizeram um exame para saber se é esse o meu caso. – ele já não conseguia mais olhá-la nos olhos – Eu jamais vou me perdoar se eu fizer algo do tipo acontecer com você…

– E você acha que pode ser? – ela não deixava transparecer sua angústia.

– Você sabe que sim.

No tempo em que não estavam juntos ele viveu sua fase mais promíscua. “Gastando seu corpo”, como gostava de dizer. Meninos e meninas passaram por sua vida e, neste momento, era isso o que passava por suas cabeças. Na vida dela também, mas ela costumava se cuidar.

Pegaram o taxi em silêncio. A caminho do hospital só se ouvia o suspiro dos dois e os comentários mal humorados do taxista. Ela pagou a corrida ao motorista, enquanto ele descia.

Sentada na recepção de entrada do prédio, ela esperava acabar a entrevista que ele tinha com o médico. Foi rápida. “Graças a Deus!”, ela pensou. Ele voltou com o rosto leve e disse simplesmente:

– Não é nada.

– Que bom. Vamos pra casa.

Na cama ele se virou para ela e disse, num desses momentos tão raros entre os dois:

– Eu te amo, sabia?

– Eu sei.

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