Moravam juntos havia alguns meses, depois de estar separados por alguns outros meses.
– Estou com febre – disse ele ao acordar de manhã.
– Gripe? – ela respondeu se arrumando para ir ao trabalho.
– Não sei.
– Beba bastante água, tome um analgésico e durma, se for gripe, vai melhorar – ela fez a recomendação já saindo do quarto, estava atrasada.
O dia se passou cinza e frio, como era característico da cidade. Ela o dia inteiro preocupada com a qualidade total do seu trabalho, necessário para sustentar a faculdade. Na hora do almoço deu uma volta pela rua, olhou para o céu e perguntou a si mesma quando tudo isso teria fim.
Quando chegou em casa, descobriu que ele não iria passar a noite com ela, precisava terminar um trabalho e passaria a noite por lá.
Na tarde do dia seguinte ela recebe uma ligação no trabalho:
– A febre voltou, não sei o que fazer. Estou me sentindo muito mal.
– Você já foi ao médico?
– Você sabe que eu não tenho plano de saúde, nem dinheiro. O que faço?
– Eu vou para casa e te levo no Hospital das Clínicas. Tiro a tarde pra isso. Fica calmo.
– Por favor, vem logo, eu não aguento mais…
Foram para o hospital. Na porta descobriram que somente o doente poderia entrar. Ela ficou do lado de fora, cuidando dele da maneira que podia. Olhava e desejava que tudo passasse logo.
Ele demorou muito a voltar. Ela saiu. Quando voltou, ela o encontrou na cama muito nervoso.
– Como foi lá?
– Estou com pneumonia. E muito forte.
– Já tomou remédio?
– Eles me medicaram e estou com os comprimidos para continuar o tratamento em casa.
– É muito grave, por que essa cara?
– Fiz um exame que preciso pegar ainda hoje. Quero que você vá lá comigo, estou com muito medo.
– Medo?
– Sim… eles disseram que essa pneumonia é muito comum em quem tem uma doença bem mais grave. Fizeram um exame para saber se é esse o meu caso. – ele já não conseguia mais olhá-la nos olhos – Eu jamais vou me perdoar se eu fizer algo do tipo acontecer com você…
– E você acha que pode ser? – ela não deixava transparecer sua angústia.
– Você sabe que sim.
No tempo em que não estavam juntos ele viveu sua fase mais promíscua. “Gastando seu corpo”, como gostava de dizer. Meninos e meninas passaram por sua vida e, neste momento, era isso o que passava por suas cabeças. Na vida dela também, mas ela costumava se cuidar.
Pegaram o taxi em silêncio. A caminho do hospital só se ouvia o suspiro dos dois e os comentários mal humorados do taxista. Ela pagou a corrida ao motorista, enquanto ele descia.
Sentada na recepção de entrada do prédio, ela esperava acabar a entrevista que ele tinha com o médico. Foi rápida. “Graças a Deus!”, ela pensou. Ele voltou com o rosto leve e disse simplesmente:
– Não é nada.
– Que bom. Vamos pra casa.
Na cama ele se virou para ela e disse, num desses momentos tão raros entre os dois:
– Eu te amo, sabia?
– Eu sei.
bacana!