21 de Abril

por Biu*

A rua ruiu, a urbs suprimiu a civitas, e o tempo parou, suspenso sobre nossas cabeças como nuvens carregadas de um temporal que nunca haverá. Estamos em Brasília, o berço esplêndido da nova civilização, que de tão nova sequer se sustenta em pé, e sobre ela deita-se eternamente, tombada. O túmulo da História, o fim da estrada. Vias que nos levam a pistas que nos levam a pontes que nos levam a nada.

É Brasília, mas podia ser qualquer lugar.

Jerusalém, Atlântida, Babel, todas fogo de palha, fogos fátuos, e estou farto de jogos, de fogos de artifício.

Roma crepitando. Um balde de água fria!

Nada adianta, ela dorme, fantasmagoria. Canteiro de obras da monotonia.

Caduca desde o início, aos cinquenta e um felicita-se a si mesma, come as velas e assopra o bolo, deseja nunca ter nascido. Agora é tarde. E amanhã é outro dia. Hoje, nunca. É depois de amanhã, ontem, outro dia, novamente outro dia e para sempre outro dia.

Kubitschek acenando para o além, para um amanhã que nunca vem.

Parabéns, distopia.

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*Biu é paraibano, farmacêutico e faz quadrinhos.

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