Eu sou da geração pré internet, um tempo que parece um universo paralelo ao que vivemos hoje. Uma coisa que me incomodava bastante naquele tempo (antes da internet) era a ideia bastante difundida por quem trabalhava com produção cultural de diversas áreas de que era impossível para qualquer um fazer um livro, um filme, um disco sozinho. Para quem faz quadrinhos ou escreve, sempre existiu o zine, ou fanzine como era conhecido nos seus primórdios, mas ele era uma publicação menor, de baixa qualidade, nunca teria o mesmo prestígio de uma revista ou seria considerado nas rodas literárias.
Quando a internet se popularizou, esse discurso se inverteu. O que aconteceria a partir de então seria o fim das revistas, livros, filmes, discos. Tudo seria online. Essa previsão apocalíptica fez muitas revistas saírem do mercado, sumiu com os discos de vinil durante um bom tempo, fez com que todo mundo tivesse blogs, fotologs, depois entrar nas redes sociais, e ninguém achou que o zines seriam úteis de novo.
Mas eis que a febre do analógico retorna aos corações e vemos por aí vinis, lomos e, claro, zines também.
Mas o que é zine?
Vamos com a clássica definição da wikipedia: “Fanzine é uma abreviação de fanatic magazine, mais propriamente da aglutinação da última sílaba da palavra magazine (revista) com a sílaba inicial de fanatic. Fanzine é portanto, uma revista editada por um fan (fã, em português). Trata-se de uma publicação despretensiosa, eventualmente sofisticada no aspecto gráfico, podendo enfocar histórias em quadrinhos (banda desenhada), ficção científica, poesia, música, feminismo, vegetarianismo, veganismo, cinema, jogos de computador e videogames, em padrões experimentais.”
O zine mais antigo conhecido no mundo é a ficção científica Cosmic Stories, publicada por Jerry Siegel, com apenas 14 anos de idade. No Brasil, o primeiro zine conhecido é o O Cobra, “Órgão Interno da 1.ª Convenção Brasileira de Ficção Científica” realizada entre 12 e 18 de Setembro de 1965, em São Paulo. No mesmo ano saiu o zine Ficção, publicado em 12 de outubro por Edson Rontani, e foi o primeiro dedicado a quadrinhos.

Mas o formato só ficou popular por aqui nos anos 80, com a onda punk e o seu lema Do It Yourself (Faça Você Mesmo), ou apenas DIY. Nesse tempo, o zine era a principal forma de divulgar shows e discos, de distribuir poesias, discussões políticas, fotos e quadrinhos. Com a popularização da internet, surgiu o e-zine, que são publicações distribuídas online. Hoje, muitos zines impressos acabam sendo publicados também na internet.
Por que fazer?
Se temos blogs, redes sociais, email, para que fazer um zine hoje em dia? Porque é muito legal poder ter um trabalho impresso, feito do jeito que eu quero, de maneira artesanal. Pode até ser que o que originou os zines fosse a praticidade e o baixo custo para difundir ideias e trabalhos por aí, mas hoje a coisa está bem além disso. Essas publicações se tornaram também objetos de arte e, muitas vezes, a maneira de manipular seu conteúdo também faz parte da brincadeira.
Muitas editoras independentes têm se especializado em fazer zines com impressão de ótima qualidade, em tiragens pequenas, em papéis especiais e montagem artesanal. Aqui vou citar uma com a qual trabalhei e que é conduzida por mulheres. A Pingado-Prés, levada a cabo por Beeanca Muto e Ivy Folha, faz edições com tiragem a partir de quarenta exemplares, encadernadas com todo o cuidado. São publicações com textos, ilustrações e fotografia.
Ainda há espaço para o DIY, mas dá para perceber que tem gente se profissionalizando na edição e publicação de livros artesanais. Já são muitas feiras dedicadas às publicações independentes, que incluem também pequenas editoras de literatura e quadrinhos, como a Feira Plana, Feira Miolos, Feira Dente, MOTIM, Parada Gráfica, e por aí vai.
Como fazer?

Para fazer um zine é preciso primeiro ter a vontade, escolher um tema, que tipo de material usar e o formato. É possível fazer tudo a mão e xerocar depois, ou fazer no computador e imprimir. Cada um escolhe seu caminho.
Separei aqui dois tutoriais simples: um da revista Capitolina e outro da WikiHow. Mas tem muitos mais disponíveis na internet

O que ler por aí?
Esta é uma introdução sobre o tema aqui no site, porque devemos falar sobre ele mais vezes, sobre gente que faz e sobre publicações. Eu tenho quatro publicações do tipo disponíveis online aqui no Facada X: Uma pessoa asquerosa; Por acaso?, que fiz com a Luda Lima; Pés – Volume I; e Cabelos – Volume II. A Laura, minha parceira aqui no Minas Nerds, também tem publicações online: Delirium e O mundo é um jogo e eu só tenho mais uma vida. Tem muita coisa na internet, então separamos mais algumas publicações de minas:
Coletivo Girl Gang – zine #1, gangue de 24 artistas
4 x amor, a junção das inspirações, devaneios e ideias de quatro amigas.
Indigo, de Suzana Maria
Gata Pirata, de Maiara Moreira
SELVÁTIK, colagens de Laíza Ferreira Desenhos e poemas de Jane Gomes
A Ética do Tesão na Pós-Modernidade vol.1 e A Ética do Tesão na Pós-Modernidade vol.2, de Lovelove6
Quanto mais gente fizer, mais coisas interessantes teremos para ler. Então, mão à obra.
(publicado originalmente no site MinasNerds)