por Laluña Machado*
O Brasil da vanguardista Anita Mafaltti vivia os pulmões da República Velha (1889-1930), com uma política centralizadora das oligarquias da região Sudeste e mantendo o interior no “cabresto” com os desmandos do coronelismo. Todavia, os primeiros anos do século XX ou Era dos Extremos segundo Hobsbawm, consolidaram novas perspectivas culturais com a inovação do cinema, histórias em quadrinhos, surgimento do expressionismo, do cubismo e tantas outras características instrutivas fizeram com que algumas pessoas adquirissem novos filtros para seus vigentes modos de ida e pensamentos.
O contexto de Primeira Guerra Mundial forçou o Brasil a investir em industrialização, uma alternativa de permuta para as importações. Assim consolidava-se uma burguesia industrial ainda não região Sudeste e formação do proletariado. Porém, mesmo com um desenvolvimento além da produção de café, a cidade de São Paulo se resumia a uma cultura provinciana.
Em 1917, Anitta Mafaltti encabeçou a Exposição de Pintura Moderna que trazia 53 obras da artista. Com influências de Mário de Andrade e Menotti de Picchia, Anitta apresentou uma visão completamente inovadora em relação aos aspectos artísticos da primeira metade do século XX. Tal evento é abalizado como a Primeira Exposição de Arte Moderna do país e berço do modernismo nacional que conquistaria muito mais notoriedade com a Semana de Arte Moderna de 1922.
A jovem de 28 anos chegava ao Brasil após estudar Belas Artes nos Estados Unidos e na Alemanha, a pintora abriu portas para novas propostas artísticas mesmo com uma deficiência no braço direito e cercada de preceitos de uma arte ainda banhada por influências do século XIX com obras marcadas por traços fiéis a realidade. Anitta tem como representação os primeiros passos do afresco vanguardista em território nacional. Apesar das duras críticas do Monteiro Lobato, a artista indicou caminhos irreversíveis para a arte no Brasil. Segundo Mário de Andrade: “Foi ela, foram os seus quadros, que nos deram uma primeira consciência de revolta e de coletividade em luta pela modernização das artes brasileiras.”
O Movimento Modernista deflagrou a ruptura de padrões estéticos e estruturas tradicionalistas, levando ao ato de repensar os conceitos de uma suposta identidade nacional. O movimento não isentou aspectos da cultura africana, indígena e interiorana, englobando elementos contemporâneos ao seu contexto e avistando uma arte futura.
Após a morte se sua mãe e do amigo Mário de Andrade, a pintora entra em processo de reclusão e falece em 1964 aos 75 anos. A compreensão da relevância das obras de Anitta Mafaltti e do Movimento Modernista como um todo nos leva até um melhor entendimento dos aspectos artísticos posteriores como o Tropicalismo, Cinema Novo e poesia marginal. A artista sabia de suas potencialidades e combateu as adversidades revolucionando referências nos campos culturais nacionais e estrangeiros.
Dicas de leitura:
Macunaíma – Roteiro e arte de Angelo Abu e Dan X
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*Laluña Machado é graduada em História pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, foi uma das fundadoras do Grupo de Estudos e Pesquisas “HQuê?” – UESB no qual também foi coordenadora entre os anos de 2014 e 2018. Do mesmo modo, exerceu a função de colaboradora no Lehc (Laboratório de Estudos em História Cultural – UESB) e Labtece (Laboratório Transdisciplinar de Estudos em Complexidade – UESB). Atualmente é membro do Observatório de Histórias em Quadrinhos da ECA/USP, colaboradora na Gibiteca de Santos e do site Minas Nerds.Sua pesquisa acadêmica tem como foco a primeira produção do Batman para o cinema na cinessérie de 1943, considerando as representações da Segunda Guerra Mundial no discurso e na caracterização simbólica do Homem Morcego. Paralelamente, também pesquisa tudo que possa determinar a formação do personagem em diversas mídias, assim como, sua história e a importância do mesmo para os adventos da cultura nerd. Contato: lalunagusmao@hotmail.com