Acabo de me tornar uma trekker. Mais uma entre os milhares de admiradores dessa série de TV, de 1966. A USS Enterprise é uma nave projetada para conhecer novos mundos, novas civilizações, “indo audaciosamente onde nenhum homem jamais esteve”, numa expedição que duraria cinco anos. A série durou apenas três temporadas, mas foi o suficiente para influenciar sucessivas gerações e ser atual no século XXI. Os comunicadores utilizados pela tripulação da nave obviamente influenciaram os designs dos celulares mais modernos.
Mitos de monstros e seres bizarros existentes em terras longínquas estão presentes na história da humanidade desde os primórdios. Na idade média os oceanos eram repletos de seres imaginários, monstros do mar, lulas gigantes, continentes submersos. Era o desconhecido daquele tempo.
Com o sucesso das grandes navegações, o desconhecido passou a morar fora do nosso planeta. A psicanálise diria que é a manifestação do inconsciente, a projeção do super ego em algo desconhecido, inexplorado.
Jornada nas Estrelas confirma essa viagem pelo desconhecido de nossa mente em cada um dos seus episódios. Os seres alienígenas que podemos admirar durante toda a saga trazem todos os conflitos existenciais e morais dos seres humanos. Nenhum poder mirabolante. Sem raios, ou lutas sobre humanas. Apenas dilemas existenciais.
Em um dos episódios, os homens da nave ficam totalmente suscetíveis a três mulheres que estão sendo negociadas por um mercador mercenário. Sua beleza magnética causa mal estar e encantamento por onde passam. No fim descobrimos que todo o seu poder vem de uma droga capaz de transformar mulheres normais em deusas. As “pílulas vênus” produzem mulheres de plástico, semelhantes às da geração botox.
Em outro episódio, encontramos um Apolo solitário em seu planeta de origem querendo construir uma nova Grécia. Kirk conclui, naturalmente: “na verdade o que interpretamos como deuses na história antiga, eram alienígenas”. Nossa relação com o divino, com a adoração cega, é tratada como alienação em outro contexto.
Até a soberania do racional sobre o emocional, como sendo um comportamento mais adequado, é duramente criticado. Spock, natural de Vulcano, é meio humano e impõe a lógica acima das emoções em sua vida. Seu comportamento é sistematicamente criticado por seus companheiros e nem sempre se mostra eficiente.
Star Trek vem provar que há ainda muito a conhecer em nós mesmos, coisas mais fantásticas do que o que pode nos esperar em outros planetas.
“O espaço, a fronteira final. Estas são as viagens da nave estelar Enterprise”.