Um festival para os independentes
Foi nos dias 15,16 e 17 de setembro. Faz um tempinho já, mas foi o período de decantar tanta informação. Uma mostra de vídeo independente destinada ao chamado “Trash” nacional. Começa com uma sessão que, entre outros, apresentou dois filmes do Ivan Cardoso, o homenageado do festival, um deles documentário sobre José Mojica Marins. Aliás, foi um filme do Mojica que abriu a mostra, “As Injustiçadas”.
Muito confuso, vou começar de novo.
Trash – 3º Mostra Goiana de Vídeo Independente
Na capital do estado de Goiás, no centro geográfico do país, foi realizada a 3ª mostra de vídeo independente da cidade. A 1a Mostra Goiana de Vídeo Independente aconteceu em 1999. Desde a primeira edição o evento tem caráter não-competitivo e começou a ser espaço para obras que jamais haviam chegado aos olhos e ouvidos do público.
Em 2005 foi realizada a segunda edição da mostra que teve 79 vídeos exibidos vindos de São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia, Distrito Federal, Paraná, Tocantins, interior de Goiás e, principalmente, da própria Goiânia. Esta edição teve a presença de José Mojica Marins, o Zé do Caixão, que ministrou um workshop que resultou no curta “As Injustiçadas”, exibido na Trash deste ano.
O que era a intenção dos organizadores, e que se comprovou na prática, a Trash em 2006 foi um espaço de veiculação de trabalhos autorais totalmente descompromissados com os formatos comerciais pré-estabelecidos.
Os filmes
Hoje em dia a máxima “uma idéia na cabeça e uma câmera na mão”, o clichê dos clichês da produção independente, pode ser considerada em seu extremo. Qualquer pessoa tem acesso a uma câmera, todos os computados já vêm com programa de edição de vídeo e qualquer vídeo tem acesso a mostras como a Trash.
Claro que existe uma seleção prévia, mas pudemos assistir filmes profissionais e amadores feitos por pessoas de todas as idades, até eu mesma tive vídeo na mostra (Pombos Comem Carne, meu e do Felipe, em exibição também no Facada num dos posts logo abaixo).
Foram vídeos de Goiânia, claro, Distrito Federal, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Espanha e Estados Unidos. Nesta edição, além dos vídeos de vários estados, foi possível ver videoclipes independentes.
Uma maratona com o melhor e o pior do gênero. Uma oportunidade de ver Afonso Brazza, o cineasta-bombeiro de Brasília, que fez sucesso com seus filmes de ação, falecido em 2003. Em “Gringo não perdoa, mata!” é possível experimentar seu roteiro cheio de floreios, quase sempre desconexos, e suas mortes espetaculares, perfeitas para os adoradores de faroeste.
A clássica animação de Otto Guerra “Rock e Hudson – Os Cowboys Gays”, com os personagens de Adão Iturrusgarai, também foi apresentada na mostra.
Ah, e um grande número de filmes de Ivan Cardoso.
Ivan Cardoso
Foi possível assistir a muitos filmes de Ivan Cardoso, criador do gênero Terrir e grande homenageado da Mostra. O “Segredo da Múmia” e sua recente continuação “O Sarcófago Macabro”, seu documentário “O Universo de Mojica Marins” e o “Escorpião Escarlate” foram exibidos dispersos em várias sessões. Porém todo o destaque foi dado à chamada premiere de seu mais novo filme “Um Lobisomem na Amazônia”, apesar do filme já ter sido exibido em mais de dez festivais mundo afora, segundo o próprio Ivan Cardoso.
O filme traz no elenco Danielle Winits, Evandro Mesquita, uns tantos outros globais, Sidney Magal, como um sacerdote inca, e Paul Nachy, o mais famoso lobisomem espanhol. A aparição de Sidney Magal no filme é o momento de maior frisson dos espectadores, o que causou espanto em Ivan Cardoso, que havia convidado para o papel o cantor Cauby Peixoto, que não tem feito mais aparições públicas e recusou o papel. Ele afirma que chegou a achar que o papel de Magal, que canta uma profecia inca para a personagem de Danielle Winits, seria um verdadeiro fracasso. Quem quiser saber mais sobre o filme, que deverá entrar em circuito comercial no fim deste ano, é só entrar no site oficial: http://www.umlobisomemnaamazonia.com.br
Momento polêmico do bate papo com o público foi quando Ivan Cardoso defendeu que só é possível fazer cinema em São Paulo ou no Rio de Janeiro, onde estão as grandes produtoras e todos os laboratórios de manipulação de película do Brasil. Ele defendeu que não é viável comercialmente fazer cinema nos interiores porque não há estrutura nem profissionais em quantidade suficiente. Algumas pessoas ficaram bastante incomodadas com a defesa do diretor, mas estávamos num mostra de vídeo, formato absolutamente democrático e que não foi escolhido por acaso pelos organizadores do evento. Então, qual era realmente o problema?
(continua…)
imagens extraídas do site da mostra: www.mostratrash.com.br