O limite de tudo isso

por Jamile Vasconcelos*

Até onde vai, onde está e qual é o limite disso tudo. Até onde vai a fronteira permitida às idéias e ao fantástico mundo real? Como ser capaz de sobreviver criativo e “inserido”? As contas batem à porta no final do mês, o telefone não para de tocar de madrugada, as notícias se escondem embaixo do tapete na porta de casa. O que fazer com as idéias? Onde guardar, como escolher, como apresentar, como manipular esse mundo tão próprio, perverso e indecifrável?

Acho que muitos preferem fazer de conta que ele não existe. Que é apenas “viagem” ou uma maneira de encontrar um passatempo no corre-corre do dia-a-dia. Mas o que fazer quando elas te impedem de sentir fome, de dormir, de se relacionar “normalmente” com as pessoas, de viver de maneira sociável? O que fazer quando elas se tornam empecilho para que um simples bom dia não se torne em um terrível saia daqui? Porque, além das idéias, ainda existe por trás de tudo, as idéias das e sobre as idéias, ou seja, uns e outros ainda inventam de querer compreender e analisar o significado do significado. A bola de neve é criada, a bola de neve cresce, a bola de neve vai rolando, rolando, rolando, até o momento que você fica bem no centro dela, deixando respirar apenas as pontas dos pés e alguns fios de cabelo. Com ela, vai o pacote todo… O dormir, o comer, o socializar-se e qualquer ação corriqueira que apenas, de fato, um verdadeiro bom dia poderia resolver.

“Será que há uma maneira de, simultaneamente, viver o mundo real e o das idéias?”, me perguntou uma vez um amigo. Como viver de maneira saudável, socializável e equilibrada no meio de tantos questionamentos, visões diferentes, desencontros e possibilidades? Porque, na verdade, tudo é possível – e é justamente aí onde mora o perigo. O universo existe para os que se dispõe a percebê-lo e encontrá-lo, a desvendá-lo, mas, existe, sobretudo para os capazes de respirar. Não adianta ter o cérebro vivo e pulmões incapazes de sentir o ar puro (ou até mesmo o poluído).

O fato é que, qualquer ação, fator, conteúdo, método, qualquer energia que seja gerada precisa encontrar o seu pouso, a sua voz e maneira de ser dissipada, propagada ou, até mesmo, exterminada. Encontrar um lugar ela precisa, nem que seja um descanse em paz e me esqueça… (o que já não é pouca coisa).

Para tudo, as considerações, o porém.

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* Jamile Vasconcelos é baiana, produtora cultural, fotografa e rabisca nas horas vagas. Simpatiza com andróides.