por Adriano de Almeida*
Dieguinho de cara vincada, solitário mas ria. De muito.
Aos doze, prensou-me na sala de aula – mais alto, mais forte, mais velho que eu. Eu era maluco e enfezado e cuspi como um bicho e ele foi pro seu canto.
Amigo? Jamais. Na verdade eu sentia era medo.
Teve jogo de bola uma vez e marcamos dois gols, por instantes virando parceiros, mas o tempo arrastou Dieguinho.
As bocadas, os doidos, as tretas, uns rolês muito estranhos no bairro. Dieguinho afastou-se da escola, e a escola afastava-se dele.
Pude vê-lo duas vezes.
A primeira uma terça gelada, ele e os manos, num golpe sem sorte, levaram-me quinze reais. Meu salário, Dieguinho, cacete!
Já na febre do rato ele viu: era eu, o sujeito da escola, o magrelo que ele apavorava, com quem dividiu breve paz.
Era tarde, os seus manos gritavam. O dinheiro miúdo escoado na mão. Essa merda de vida, Dieguinho, roubando o que outros, branquinhos, retinhos do bairro ganhavam, trabalhando pra limpos poltrões.
A segunda foi constrangedora. Eu já tinha mais de vinte anos, dava aulas num curso noturno, e a chamada acusou Dieguinho, que escondeu de vergonha e sumiu.
Uma outra existiu, a terceira. Mas não era o menino Diego. Era outro, um zumbi gaguejante, implorando em molambos trocados, pra pagar sua pedra azarada.
Dieguinho, cacete, que vida, eu me sento a essa hora noturna, pra gravar o seu nome infeliz.
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* Adriano de Almeida é paulistano, pai, escritor e professor de literatura.
yeah.
bom, muito bom, gostei, rapido, pesado. facada