Little Nemo (1911)

por Winsor McCay, com apresentação do André Rafaini Lopes*

Embaixadores dos sonhos

Comecei como sócio-fundador (olha isso, que chique), me acabei por me tornar colaborador bissexto do Facada, assumo. Deveria escrever mais, reconheço. Mas porém contudo todavia, uma informação interna e privilegiada mexeu com meus brios.  A editora (e também chique sócia-fundadora do Facada) me adiantou o post de hoje. Morda-se. A exibição desse belo curta de animação de Winsor McCay não poderia passar sem um pitaco meu.
Depois desse tenebroso nariz de cera que seria cortado por um editor cujo saquito não tivesse sido puxado (não é excelsa Roberta AR?), vamos ao que interessa.
O artista responsável por essa animação é apenas o maior gênio das histórias em quadrinhos. Minha consciência pede para compará-lo com o imortal Will Eisner, mas sem McCay é bem possível que a arte sequencial nunca tivesse evoluído como linguagem. Até então, basicamente os gibis traziam histórias de crianças arteiras e ninguém havia percebido que o papel em branco aceita tudo.
O agente (mais famoso… pelo menos) dessa transformação é o menininho que ganha vida neste filmete. Ele é Little Nemo, personagem publicado semanalmente de 1905 a 1914 e de 1924 a 1927. Trata-se de um garoto convocado pelo Rei Morpheus para ir ao Reino do Sono (Slumberland): a viagem, que poderia ser um passeio curioso e divertido, se torna uma verdadeira “bad trip” lisérgica. Móveis ganham vida. Ilusões de ótica deixam de ser apenas truques visuais. Proporções são alteradas. Estranhos animais fumam charutos e conversam.
Levam algumas semanas até que o garoto deixasse de se assustar (sempre acordando em seguida) para explorar aquele mundo. Quem se interessar pode achar várias histórias de Nemo pelo Google, aliás o próprio buscador homenageou o personagem em um dos seus doodles.
É um belo gostinho do maravilho traço art-noveau de McCay. Devo confessar que a incursão do desenhista no ramo da animação não é de todo novidade para mim. Mas ao clicar no link vazado pela chefa uma outra conexão se formou na minha cabeça: em pleno ido de 1911, o desenhista brincava com o equipamento cinematográfico para criar animações coloridas! Sei que um jornalista não deve nunca usar exclamações, mas meus professores não estão me lendo.
Qual outro monstro também ousou trazer o onírico para sua arte naqueles fins de século 19 e início de 20? Caramba. Estava na minha cara esse tempo todo. O cara é contemporâneo de Georges Méliès!!!!!!!!!!!!!!! (Fuck the grammar police) Nada mais ou nada menos do que o mago por trás da criação dos efeitos visuais no cinema. E uma rápida busca mostrou: em 1911, o mesmo ano de Little Nemo, Mélies produziu sete curtas (The Ranchman’s Debt of Honor, Les aventures de baron de Munchhausen, Mexican as It Is Spoken, Right or Wrong, Tommy’s Rocking Horse, The Stolen Grey, The Mission Waif). E, na ponta do lápis, até alguns elementos visuais se assemelham.
Amigo facadeano, não se contente com apenas essa animação. Conhecendo a editora como a conheço, tenho certeza de que engatilhará outras pérolas como How a Mosquito Operates,
Gertie the Dinosaur e The Centaurs (um tablito a ser pago presencialmente em São Paulo para o primeiro que pescar uma cria desse último)! Até lá quem sabe eu não escrevo de novo!

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*Winsor Zenic McCay foi um cartunista e animador norte-americano. Artista prolífico, McCay foi pioneiro na técnica de desenhos animados, criando um padrão que seria seguido por Walt Disney e outros em décadas seguintes. Suas duas criações mais conhecidas foram a tira semanal Little Nemo in Slumberland, publicada de 1905 a 1914 e de 1924 a 1927, e a animação Gertie the Dinosaur, criada em 1914. Este filme mostra o próprio McCay desenhando as imagens que mais tarde vão para a animação.

3 comentários em “Little Nemo (1911)

  1. É algo muito impressionante?? Como ele tinha já formado, a noção de movimento, além da colorização, como ele dominava a trama do movimento sem distorcer o personagem. Da mesma forma como se tenta desenhar, a mão com cinco dedos, em pé de igualdade com a proporção do corpo. É incrível? Hoje em dia tudo tem que ter curso? E nesse período como se formavam estes mestres? Donde tirava as sacadas? PHODDA! Pena que no Brasil esse tipo de produção só está sendo possível agora com os pc’.

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