O caminho mais fácil

por Roberta AR

Eu queria chegar chegando, com os pés nos peitos dos outros, dizendo altas sinceridades impensadas sem filtro e isso podia não me afetar em nada. Me sentiria ofendida quando quem quer que fosse se contrapusesse, porque eu seria inquestionável.

Podiam me pagar por eu ser assim, bastante, porque, além de tudo, eu ia me achar a mais competente em tudo o que fosse fazer e isso, de eu me achar foda, já seria mais do que o suficiente para que os dinheiros fossem dados a mim pelas pessoas que gostam de pessoas que se acham as mais competentes.

Sairia perguntando para as pessoas, em debates na internet ou pessoalmente, de forma condescendente, “como você chegou nessa afirmação?”, dizendo que elas são burras de uma forma direta, mas ao mesmo tempo fingindo ser gentil. Eu nem precisaria estudar, porque ser inteligente é algo assim automático, basta querer ser e dizer que é.

Uma família perfeita é o que completaria esse cenário, claro. Um filho pequeno que soubesse todas as capitais do país, ou qualquer outra coisa inútil, mas que é bonitinho ficar mostrando pros outros, o que provaria que ele é melhor que os filhos dos outros em tudo. Simples assim. Ficaria exaltando as reuniões em datas especiais “dessa família enorme e unida que temos”. Fotos bonitas com todo mundo sorrindo, abraçados, cenas de cantoria, de primas “um pouco bêbadas”.

Um carro novo, uma casa com várias coisas.

Talvez escreveria um livro, como tantos que já existem, mas esse seria melhor, porque meu, para ajudar as pessoas a ter essa vida perfeita que eu teria. Possivelmente seria coach motivacional de vida, de carreira, ou de tudo, porque teria tanto para ensinar para quem não sabe viver.

Cabeça cheia de projetos e atividades e vida social porque ociosidade e cabeça vazia é oficina do diabo. Não ter tempo para pensar faz com que os problemas não sejam reais.

Nem seria preciso fingir, porque eu ignoraria por completo minha alma destroçada pela violência de não ser quem eu sou, de não me preocupar com o que é realmente importante pra mim.

Tudo daria certo e o que não desse seria fruto da inveja, das más energias ou da incompetência mesmo dos outros. Qualquer dor sentida seria uma grande injustiça desse mundo que não me dá tudo o que eu acho que preciso, mas que quero ardentemente.

Seria assim até o fim, que teria discursos lindos sobre a minha grandeza, enquanto minhas cinzas seriam espalhadas por pessoas que nunca souberam realmente algo importante sobre mim.

Seria fácil, mas já não é mais possível. Não pra mim.