Não

por Antonio Souza*

Não, o campo não está lavrado
nem a mesa posta
e tuas promessas
o descanso
a terra do eterno estio
Passárgada ou
o oblívio
não, ainda não é o tempo
o cheiro de manga madura no ar
é verão e depois
outono
e depois o inverno
Segurarei a tua cintura
e te seguirei
apenas quando chegar a Quinta Estação

.

Infância exumada

Quem me chama sob as camadas do sono?
__ acorda menino
acorda pra carpir
Quem me chama entressonhos
a louca minha mãe ?
Abaixo dos lençóis de água
a tessitura do vazio
o não Ser . O dexistir,
O rio corre nas profundezas
O rio corre para o mar
para o buraco do mundo.
No poço de águas escuras
A mãe d´água me arrasta
para o fundo .
Da água forte do sonho
quis recuperar a infância sem nome
sem história
a infância cósmica
Mas no poema posso apenas
a infância exumada
desse retrato surge um menino
de rosto sério e digno ,
rosto que não reconheço
Não está acostumado à canduras
ao cetim ao veludo
O dia imenso , a poeira
o sol a pino . O seco mordente
a terra esturricada;
A chuva não veio e não virá
O milho morrerá
o pasto morrerá
as vacas também.
E apesar de olhar o rio Sena
de pés descalços repiso
o Sertão

.

*Antonio Souza é poeta e, sobre si, diz: “nasci em Pernambuco, há algum tempo, a não ser por alguns poemas que tenho a pachorra de fazer, sou a pessoa mais sem graça do mundo e não gosto de falar disso”.

Um comentário em “Não

Os comentários estão encerrados.