A mão do pintor: a Guerra do Paraguai no olhar de dois artistas visuais

por Roberta AR

Uma tenossinuvite une, numa situação absolutamente inusitada, os desenhistas compulsivos Maria e Cándido. O inusitado? Cândido é o espírito de um ex-soldado da Guerra do Paraguai que aparece para pedir que Maria continue sua obra, terminando seus quadros do campo de batalha. O ponto em comum entre eles é o médico que amputou a mão do soldado pintor, salvando sua vida, Teodósio. O amigo de Cándido é o tataravô de Maria. Essa é a premissa para o livro A mão do pintor, da quadrinista argentina Maria Luque, lançado por aqui pela Lote 42.

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Enquanto Maria tenta aprender as técnicas de pintura com o espírito narrador, vamos conhecendo os detalhes desta guerra monstruosamente sangrenta que dizimou milhares de soldados paraguaios, por um lado, e brasileiros, uruguaios e argentinos do outro. As relações de poder entre os regentes dos países envolvidos no conflito demonstram o total despreparo e o desprezo às vidas envolvidas no embate.

A narrativa é feita toda em cores, numa paleta vibrante, que nos envolve na vida daqueles homens que passaram anos vagando por paisagens de muitos tipos do sul do nosso continente. Cándido López é um narrador envolvente, que traz para a história a perspectiva de quem observa detalhes e registra tudo em grandes planos gerais.

A mão do pintor é um livro que destaca a violência da Guerra do Paraguai, uma guerra que nossa história tenta esquecer, mas também fala sobre olhar a vida com outros olhos e sobre buscar novas formas para lidar com a dificuldades.

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“Meu tataravô Teodosio Luque cursava o último ano de medicina quando foi enviado para a Guerra do Paraguai. Na Batalha de Curupaiti teve que amputar a mão de um soldado para salvá-lo. O pintor era Cándido López e a mão ferida era sua mão hábil. Durante os anos seguintes, Cándido treinou sua mão esquerda e conseguiu pintar 52 dos 90 esboços que havia feito sobre a guerra. Um de seus quadros esteve durante anos debaixo da minha cama, e Cándido apareceu um dia para me pedir que terminasse suas pinturas. Ficamos amigos, ele me contou sua vida e sua experiência na guerra. Me ensinou a pintar com óleo e eu o ensinei a tomar sorvete e fazer fanzine”, explica a autora na quarta capa do livro.

Cándido López

Cándido López (Buenos Aires, 29 de agosto de 1840 – Baradero, 31 de dezembro de 1902) foi um pintor argentino, classificado como integrante da naïf, que se tornou célebre por seus quadros históricos sobre a Guerra da Tríplice Aliança. Mais informações na wikipedia.

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A autora

Maria Luque nasceu em Rosário, Argentina, e mora atualmente em Roma, Itália. Desde 2005. exibe seus trabalhos em museus e galerias da Argentina, Chile, Peru, México e Espanha. Trabalha como ilustradora editorias e A mão do pintor é sua primeira novela gráfica.

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A mão do pintor

Maria Luque

Lote 42

R$ 65,00

O livro foi cortesia da editora