por Castro Alves* "Ouve-me, pois!… Eu fui uma perdida;Foi este o meu destino, a minha sorte…Por esse crime é que hoje perco a vida,Mas dele em breve há de salvar-me a morte!"E minh'alma, bem vês, que não se irrita,Antes bendiz estes mandões ferozes.Eu seria talvez por ti maldita,Filho! sem o batismo dos algozes!"Porque eu pequei… … Continue lendo Mãe penitente
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Os argonautas
por Francisca Júlia da Silva* Mar fora, ei-los que vão, cheios de ardor insano;Os astros e o luar — amigas sentinelas —Lançam bênçãos de cima às largas caravelasQue rasgam fortemente a vastidão do oceano. Ei-los que vão buscar noutras paragens belasInfindos cabedais de algum tesouro arcano…E o vento austral que passa, em cóleras, ufano,Faz palpitar … Continue lendo Os argonautas
A viúva Simões
por Júlia Lopes de Almeida* I Apesar de moça e de rica, a viúva Simões raras vezes saía; dedicava-se absolutamente à sua casa, um bonito chalet em Santa Tereza. Vivia sempre ali; inquirindo, analisando tudo num exame fixo, demorado, paciente, que exasperava os seus cinco criados: a Benedita, cozinheira preta, ex-escrava da família; o Augusto, … Continue lendo A viúva Simões
Uma vida em fuga
por Roberta AR Decidi fugir. Achei mais fácil do que ficar encarando coisas que não vão mudar mesmo. E a fuga acabou virando um estilo de vida, minha marca registrada. No começo, só fugia daquilo que era grande e medonho, hoje, qualquer coisa que doa é motivo. Quando eu era nova e resistente, aguentava ouvir … Continue lendo Uma vida em fuga
A alegria do povo
por Carlos Marighella* Uma grande jogadapela ponta direita,o balão de courocomo que preso no pé.Um drible impossível…Garrincha sai por um lado,e o adversário se estatela no chão.Gargalhada geral,o Maracanã estremece…Lá vai o ponta seguindo,os holofotes varrendo de luz o gramado,o balão branco rolando,seguro nos pés do endiabrado atacante. Voa Garrincha,invade a área contrária,indo até à … Continue lendo A alegria do povo
Um que vendeu a sua alma
por Lima Barreto* A anedota que lhe vou contar, tem alguma cousa de fantástica e pareceria que, como homem de meu tempo, eu não devia dar-lhe crédito algum. Entra nela o Diabo e toda a gente de certo desenvolvimento mental está quase sempre disposta a acreditar em Deus, mas raramente no Diabo. Não sei se … Continue lendo Um que vendeu a sua alma
Consolo Supremo
por Auta de Souza* Os tristes dizem que a vidaÉ feita de dissaboresE a alma verga abatidaAo peso das grandes dores. Não acredito que sejaAssim como dizem, não…Ai daquele que desejaViver sem uma ilusão! Se há noites frias, escuras,Também há noites formosas;Há risos nas amarguras;Entre espinhos nascem rosas. E rosas também cobriramO lenho santo da … Continue lendo Consolo Supremo
Gupeva
por Maria Firmina dos Reis* I Era uma bela tarde: o sol de agosto animador e grato declinava já seus fúlgidos raios; no ocaso ele derramava um derradeiro olhar sobre a terra e sobre o mar que, a essa hora mágica do crepúsculo, estava calmo e bonançoso, como uma criança adormecida nos braços de sua … Continue lendo Gupeva
Mais uma vez
por Lima Barreto* Este recente crime da rua da Lapa traz de novo à tona essa questão do adultério da mulher e seu assassinato pelo marido.Na nossa hipócrita sociedade, parece estabelecido como direito, e mesmo dever do marido, o perpetrá-lo.Não se dá isto nesta ou naquela camada, mas de alto a baixo. Eu me lembro … Continue lendo Mais uma vez