por Florbela Espanca* Ando perdida nestes sonhos verdesDe ter nascido e não saber quem sou,Ando ceguinha a tatear paredesE nem ao menos sei quem me cegou!Não vejo nada, tudo é morto e vago…E a minha alma cega, ao abandonoFaz-me lembrar o nenúfar dum lago´Stendendo as asas brancas cor do sonho…Ter dentro d´alma na luz de … Continue lendo Cegueira bendita
Tag: Literatura
Um que vendeu a sua alma
por Lima Barreto* A anedota que lhe vou contar, tem alguma cousa de fantástica e pareceria que, como homem de meu tempo, eu não devia dar-lhe crédito algum. Entra nela o Diabo e toda a gente de certo desenvolvimento mental está quase sempre disposta a acreditar em Deus, mas raramente no Diabo. Não sei se … Continue lendo Um que vendeu a sua alma
A criança que pensa em fadas
por Alberto Caeiro*A CRIANÇA que pensa em fadas e acredita nas fadasAge como um deus doente, mas como um deus.Porque embora afirme que existe o que não existeSabe como é que as cousas existem, que é existindo,Sabe que existir existe e não se explica,Sabe que não há razão nenhuma para nada existir,Sabe que ser é … Continue lendo A criança que pensa em fadas
Gupeva
por Maria Firmina dos Reis* I Era uma bela tarde: o sol de agosto animador e grato declinava já seus fúlgidos raios; no ocaso ele derramava um derradeiro olhar sobre a terra e sobre o mar que, a essa hora mágica do crepúsculo, estava calmo e bonançoso, como uma criança adormecida nos braços de sua … Continue lendo Gupeva
Mais uma vez
por Lima Barreto* Este recente crime da rua da Lapa traz de novo à tona essa questão do adultério da mulher e seu assassinato pelo marido.Na nossa hipócrita sociedade, parece estabelecido como direito, e mesmo dever do marido, o perpetrá-lo.Não se dá isto nesta ou naquela camada, mas de alto a baixo. Eu me lembro … Continue lendo Mais uma vez
A infância exumada
por Antonio Souza* Havia algo de mau, havia algo de sádico em minha mãe e os seus jogos de pique-esconde. Na infância, morávamos perto de uma mata, na época, imensa pra mim. Eu era o preferido , era o escolhido sempre para acompanhá-la pela travessia desse local escuro, andar até a casa da tias. Minha … Continue lendo A infância exumada
Sanka
por Antonio Souza* Tudo é destruição, tudo é solidão, tudo não passa de um arremedo de vida. Mas o que importa? Apenas os deuses, apenas eles podem dizer que vivem. O deus Sanka, destruidor de vários mundos, chegou-se à janela de seu palácio e percebeu que a destruição que causara não traria nenhum benefício ao … Continue lendo Sanka