A volta

por Lima Barreto* O governo resolveu fornecer passagens, terras, instrumentos aratórios, auxílio por algunsmeses às pessoas e famílias que se quiserem instalar em núcleos coloniais nos Estados deMinas e Rio de Janeiro.Os jornais já publicaram fotografias edificantes dos primeiros que foram procurarpassagens na chefatura de polícia.É duro entrar naquele lugar. Há um tal aspecto de … Continue lendo A volta

Uma segunda chance com Joy de fundo

por Roberta AR “When routine bites hard and ambitions are lowAnd resentment rides high, but emotions won't growAnd we're changing our ways, taking different roadsThen love, love will tear us apart againLove, love will tear us apart again”Joy Division 1 Quando estava perto de completar os cinquenta anos que tenho hoje, me separei novamente e … Continue lendo Uma segunda chance com Joy de fundo

Tudo quanto penso

por Fernando Pessoa* Tudo quanto penso, Tudo quanto sou É um deserto imenso Onde nem eu estou. Extensão parada Sem nada a estar ali, Areia peneirada Vou dar-lhe a ferroada Da vida que vivi. . *Fernando António Nogueira Pessoa (1888 –  1935) foi um poeta, filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, publicitário, astrólogo, inventor, empresário, correspondente comercial, crítico literário e comentarista político português.

Cantai

por Auta de Souza* A Edwiges de Sá Pereira Ó vós, que guardais no seioCom tanto amor e carinho, Com o mesmo doce receioDe um’ave que guarda o ninho:As ilusões mais douradasQue um’alma de moça encerra: -Cantai as crenças nevadasQue divinizam a terra;Cantai a meiga harmoniaDas esperanças em flor,Cantai a vida, a alegria,Na lira santa … Continue lendo Cantai

Ode à Revolução

por Vladimir Maiakóvski* A ti,a quem silvaramzombeteiras baterias;a ti,lacerada por ferro maldizente,dedico entusiasmado,entre saraivadas de impropérios,odes solenes."Oh!"Oh, feroz!Oh, infantil!Oh, avara!Oh, colossal!Que outros nomes te deram?Que rosto mostrarás?Serás esbelta obraou escombros frios e mortos?Ao maquinistacoberto pelo pó do carvãoe ao mineiro que morde os veiostributas o incensocom unção,louvando o trabalho dos homens.E amanhã,em vão São Basílio … Continue lendo Ode à Revolução

Os argonautas

por Francisca Júlia da Silva* Mar fora, ei-los que vão, cheios de ardor insano;Os astros e o luar — amigas sentinelas —Lançam bênçãos de cima às largas caravelasQue rasgam fortemente a vastidão do oceano. Ei-los que vão buscar noutras paragens belasInfindos cabedais de algum tesouro arcano…E o vento austral que passa, em cóleras, ufano,Faz palpitar … Continue lendo Os argonautas

A viúva Simões

por Júlia Lopes de Almeida* I Apesar de moça e de rica, a viúva Simões raras vezes saía; dedicava-se absolutamente à sua casa, um bonito chalet em Santa Tereza. Vivia sempre ali; inquirindo, analisando tudo num exame fixo, demorado, paciente, que exasperava os seus cinco criados: a Benedita, cozinheira preta, ex-escrava da família; o Augusto, … Continue lendo A viúva Simões

Uma vida em fuga

por Roberta AR Decidi fugir. Achei mais fácil do que ficar encarando coisas que não vão mudar mesmo. E a fuga acabou virando um estilo de vida, minha marca registrada. No começo, só fugia daquilo que era grande e medonho, hoje, qualquer coisa que doa é motivo. Quando eu era nova e resistente, aguentava ouvir … Continue lendo Uma vida em fuga

Cegueira bendita

por Florbela Espanca* Ando perdida nestes sonhos verdesDe ter nascido e não saber quem sou,Ando ceguinha a tatear paredesE nem ao menos sei quem me cegou!Não vejo nada, tudo é morto e vago…E a minha alma cega, ao abandonoFaz-me lembrar o nenúfar dum lago´Stendendo as asas brancas cor do sonho…Ter dentro d´alma na luz de … Continue lendo Cegueira bendita